“Ela começou a beber num ritmo furioso, pediu logo uma batida de limão e tomou uma atrás da outra... e em menos de meia hora estava em condições lastimáveis...
'Meu filho, você acha sua mãe uma mulher atraente?' E eu não estava gostando nada do rumo que a conversa estava tomando... De repente, sinto algo se esfregando na minha perna. 'Me fala se eu sou uma mulher atraente, vai?' Aquilo me deu um arrepio de pavor: 'Pô, mãe, vamos pra casa que você já esgotou sua cota de álcool por hoje.' 'Tá bem, mas você não namoraria uma pessoa como eu?"
Lobão já cantou a "vida, louca vida", a "vida bandida" e que "a vida é doce". Agora, nas quase 600 páginas de sua autobiografia - assinada com o jornalista Claudio Tognolli -, "Lobão: 50 anos a mil" (Nova Fronteira), o músico reafirma seus versos. Sua saga é repleta de loucura, banditismo (no sentido figurado, de transgressão, ou literal, de disparar tiros contra a polícia ao lado de traficantes) e - quase estranha para quem imagina a figura da selvagem metralhadora - doçura. Afinal, na história que vai do garoto criado sob todas as condições necessárias para se tornar "um bundão" (nas palavras dele mesmo) ao atual "pregador do evangelho da irresponsabilidade" (como já definiu Tognolli), o personagem que emerge do livro - mesmo que sem abrir mão da acidez, da crueza em relatos que beiram o chocante e da dureza nas críticas a si próprio e a colegas - é mais ponderado e carinhoso que o que surge nas entrevistas concedidas ao longo das últimas décadas:
- Eu escrevi o livro com a segurança de que meu relato sobrepujaria de longe essa caricatura ridícula que teimam em me impor. Sou uma criatura amorosa, respeito tanto meus amigos como meus supostos inimigos e, se fosse mais pesado em meu relato, aniquilaria a força da informação em si para virar um ressentido, um covarde, um mesquinho, um canastrão, enfim, tudo que esses idiotas, por décadas, tentam me imputar.
Nascido no seio de uma típica família burguesa, de pais "do tipo supercaçulas" ("Um casal jovem, apaixonado, meio desprotegido, meio de direita", escreve), o menino João Luiz Woerdenbag Filho cresce sob a marca do apelido Xurupito ("humilhante"). Sua primeira "aparição pública" é no Canal 100, como a criança que grita "Mamãe!", chorando, enquanto sua mãe, Ruth Araújo de Mattos, se dirige a seu kart para o início de uma corrida. Além de piloto (como o pai), ela é descrita como "dona-de-casa-que-frequenta-centro-espírita". Já o patriarca aparece como "uma espécie de nazista conceitual" que "adorava valsas de Strauss e acrósticos".
Ali, naquele ambiente que é uma promessa de marasmo, se passa uma história que é tão ou mais movimentada que seus caminhos musicais, as paixões arrebatadoras por mulheres como Marina, as amizades com Cazuza e Júlio Barroso, a passagem pela Blitz (e a rasteira que deu na banda), a guerra contra as gravadoras pela numeração dos discos e contra o jabá, sua relação com drogas, os problemas com a Justiça, a entrada do roqueiro na bateria da Mangueira sob a bênção de Elza Soares. Sua saga familiar inclui suicídios, traições, alguma blasfêmia (na infância, ele achava sexy a imagem de Cristo crucificado e chegou a simular uma via-crúcis que terminou numa masturbação carregada de culpa), energia incestuosa (que culmina num relato de sua mãe se insinuando para ele, bêbada, num bar) e uma briga na qual espancou seu pai.
- É claro que se assemelha muito a um folhetim de Nelson Rodrigues, mas foi assim que aconteceu mesmo - ratifica o autor.
Os fãs que buscam conhecer a formação musical do artista - que vai das marchinhas que tocava em sua bateria nas festas de fim de ano ao rock progressivo, passando por Jovem Guarda, punk, choro e música clássica - e os desejos que moveram cada disco, seus bastidores, ficarão satisfeitos.
- Eu escrevi o livro com a segurança de que meu relato sobrepujaria de longe essa caricatura ridícula que teimam em me impor. Sou uma criatura amorosa, respeito tanto meus amigos como meus supostos inimigos e, se fosse mais pesado em meu relato, aniquilaria a força da informação em si para virar um ressentido, um covarde, um mesquinho, um canastrão, enfim, tudo que esses idiotas, por décadas, tentam me imputar.
Nascido no seio de uma típica família burguesa, de pais "do tipo supercaçulas" ("Um casal jovem, apaixonado, meio desprotegido, meio de direita", escreve), o menino João Luiz Woerdenbag Filho cresce sob a marca do apelido Xurupito ("humilhante"). Sua primeira "aparição pública" é no Canal 100, como a criança que grita "Mamãe!", chorando, enquanto sua mãe, Ruth Araújo de Mattos, se dirige a seu kart para o início de uma corrida. Além de piloto (como o pai), ela é descrita como "dona-de-casa-que-frequenta-centro-espírita". Já o patriarca aparece como "uma espécie de nazista conceitual" que "adorava valsas de Strauss e acrósticos".
Ali, naquele ambiente que é uma promessa de marasmo, se passa uma história que é tão ou mais movimentada que seus caminhos musicais, as paixões arrebatadoras por mulheres como Marina, as amizades com Cazuza e Júlio Barroso, a passagem pela Blitz (e a rasteira que deu na banda), a guerra contra as gravadoras pela numeração dos discos e contra o jabá, sua relação com drogas, os problemas com a Justiça, a entrada do roqueiro na bateria da Mangueira sob a bênção de Elza Soares. Sua saga familiar inclui suicídios, traições, alguma blasfêmia (na infância, ele achava sexy a imagem de Cristo crucificado e chegou a simular uma via-crúcis que terminou numa masturbação carregada de culpa), energia incestuosa (que culmina num relato de sua mãe se insinuando para ele, bêbada, num bar) e uma briga na qual espancou seu pai.
- É claro que se assemelha muito a um folhetim de Nelson Rodrigues, mas foi assim que aconteceu mesmo - ratifica o autor.
Os fãs que buscam conhecer a formação musical do artista - que vai das marchinhas que tocava em sua bateria nas festas de fim de ano ao rock progressivo, passando por Jovem Guarda, punk, choro e música clássica - e os desejos que moveram cada disco, seus bastidores, ficarão satisfeitos.
Fonte: O Globo
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